"Esta é mais uma achega à exposição do fado"

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Carlos do Carmo, FADISTA

O que sentiu quando soube que o prémio Goya para a Melhor Canção Original era seu?

Estava na sala e, sinceramente, não contava ganhar aquele prémio. Para já não contava sequer ser nomeado. Eles têm a sua indústria, o seu universo. E são proteccionistas à séria! Em relação a nós foi incrível. E fui muito bem tratado. Caíram-me as câmaras de televisão e os fotógrafos em cima, mas com respeito, com carinho. Nada especulativos... Só houve um que me perguntou se cantaria no próximo filme de Almodóvar...

Subiu ao palco para agradecer...

Anunciaram, chamaram-nos. O Fernando Pinto do Amaral, como autor, fez o seu discurso e, depois, fiz o meu. Falámos o nosso espanhol que, felizmente, é fluente. Fomos muito aplaudidos. E depois levaram-nos aos bastidores para fazer as fotos de família e as entre- vistas, enfim, todo aquele frenesim.

O Fado da Saudade é um dos dois temas originais da banda sonora de Fados. Como surgiu esta canção?

O [Carlos] Saura telefonou-me a dizer que gostaria de abrir o filme com umas imagens de Lisboa e comigo a cantar. E perguntou se eu conseguia encontrar uma história do fado escrita, em verso. Telefonei ao Fernando Pinto do Amaral e disse-lhe que podíamos cantar o velho FadoMenor, mas em versículo. Ele aceitou o desafio e passado uma semana tinha o fado pronto. Cada quadra é um sentimento de descrição da história do fado.

O que sente hoje ao ver o filme?

Já o vi três vezes. Há dias vi-o em Almada, onde houve um debate. Vi-o com a serenidade de quem o vê pela terceira vez. E cada vez que o vejo descubro novas questões, novas ideias, novas intenções. É um filme que, visto uma só vez, talvez não nos baste.

O prémio ajudará a reforçar a exposição internacional do fado que o filme, de certa forma, também veicula?

Será mais uma achega. É positivo. Porque, nos territórios de língua hispânica, os prémios Goya têm muito prestígio. E é preciso ver que, hoje, a língua espanhola nos EUA já é uma segunda língua muito próxima da primeira. Esta divulgação, por isso, tem peso.

Que comentários ouviu ao filme em Espanha?

Grande entusiasmo e sentimento de descoberta. Mas, acima de tudo, o imenso respeito, quase veneração que têm pelo Saura.

Carlos Saura disse ao DN que, depois de fazer o filme, se sentia mais português...

Ele compreendeu o fado. E isso foi uma vantagem enorme. Este olhar de fora faz-nos, às vezes, compreender as coisas de outra forma. Eu, que tenho esta paixão pelo fado desde miúdo, reparei que ele me ajudou a despertar para muitas coisas. Se eu fosse dono de uma casa de fados neste momento, faria com que o fado fosse aí dançado. |

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